E AGORA?
Este é o primeiro Natal que passo órfã. Sim, tenho 61 anos, e então? Quando os nossos pais seguem o seu caminho extraterreno, sentimo-nos órfãos, independentemente da idade que tivermos. Ficamos assustados. Depois de nós não há mais ninguém, pessoa alguma que nos AME incontrolavelmente, a quem possamos recorrer...
O chão desaparece sob os nossos pés, e é nessa inexistência de apoio que temos de reaprender a caminhar. Que temos de reaprender tudo, inclusivamente qual é o nosso papel a partir desse momento de solidão absoluta.
O que esperam de nós? Quem somos agora? O que mudou e o que permanece, para além do vazio?
Aos poucos, tateando, reerguemo-nos. Os dias sucedem-se, a vida não deixa de acontecer e o tempo tudo vai repondo no local certo.
NADA é igual, a partir do dia em que nos sentimos órfãos, mas até na orfandade nos reinventamos e renascemos, diferentes, outros... Uns dias mais tristes, outros mais alegres, acabamos por nos reencontrar. E aí, percebemos que a ausência dos nossos pais nos deixou um legado de continuidade: já ninguém nos chama filhos, mas há vozes pequeninas que nos chamam de - pasme-se! - avós, e outras que nos chamam pais, tios...
Temos, pois, de prosseguir esta viagem, até que chegue o dia da nossa passagem.
Aí, alguém se perguntará de novo: e agora?