“WORK FOR FOOD!”
Enquanto tratava hoje do pequeno almoço - e como agora tenho todo o tempo do mundo, visto estar em casa, de
cadeira de rodas, à espera que o meu pé operado fique suficientemente forte para o pousar no chão! – liguei a televisão e pus-me a ver o Extreme Makeover – Home edition, na Sic Mulher. Para quem não sabe o que é, passo a explicar: famílias que passaram por enormes traumas, acidentes, ou que foram vítimas de catástrofes naturais e que, cumulativamente têm uma acção social importante de ajuda aos outros, são selecionadas para uma intervenção total na sua casa. Por vezes, a tal reconstrução total passa pelo arrasar da casa e pela construção de uma outra, de acordo com as características da família e das pessoas, individualmente, em questão. Muitas vezes, ao ver o nosso Querido, mudei a casa, não posso deixar de entristecer por verificar que neste nosso país em que tanta carência existe, as escolhas para intervenção recaem quase invariavelmente em gente da classe média que gostava apenas de ter uma divisão mais bonita… Mas enfim, se entrássemos por aí, seguramente que eu iria escrever um outro artigo que não aquele que me levou a abrir o computador esta manhã. Dizia eu então que, ao ver o programa Extreme Makeover, a páginas tantas o construtor da casa em questão diz à família que passará a recrutar pessoas daquele bairro – mais que problemático – dando-lhes um salário, por forma a que deixe de se ver gente com dísticos em que conste este pedido “WORK FOR FOOD!”.
Fiquei absolutamente estarrecida ao perceber que na terra onde tudo é possível, na terra do sonho americano, há gente que mendiga trabalho apenas para que possa comer!!! O mundo está definitivamente a colapsar. Será isto o progresso? Será este
o mundo que os nossos antepassados lutaram para nos deixar? Chegámos à lua e não conseguimos construir um mundo em que cada um tenha o direito inalienável à dignidade, à comida, à educação, à saúde?
Cada dia que passa, mais fico com a impressão de que, se não formos nós, cidadãos, indivíduos, comunidades restritas, a cuidar dos nossos, os governos deste mundo conseguirão aquilo para que tão afincadamente trabalham: a destruição da moral, da ética, do ser humano!
E EU PERGUNTO-ME, PERGUNTO-VOS: é a isto que queremos voltar? A mendigar trabalho para podermos comer? A depender dos grandes para sobreviver?
Quando compreenderemos que todos nós, os pequenos, juntos, temos mais força que qualquer dos grandes? Há que
agir, há que relembrar… músicas… palavras… acções… Há que FAZER ALGUMA COISA!!!
Podemos até nem saber bem o quê, mas se nos deixarmos guiar por um simples Faz pelos outros o que gostarias que
fizessem por ti! … tudo ficará bem mais fácil e exequível.
Alguém disse que, se quisermos mudar o mundo, temos de começar por nos mudar a nós, e essa é, sem dúvida, a
mudança mestra!
Comecemos hoje, sem demora, esse processo de mudança interna, para que, um dia destes, não vejamos os nossos filhos e netos, andrajosos, a uma qualquer esquina, mostrando o certificado de licenciatura, de mestrado ou de doutoramento, mendigando trabalho em troca de comida!