OS DIAS SEM NOME
Deixaram de ter interesse, os nomes dos dias. Que me importa se é quinta ou sábado, terça ou sexta. O Tempo mudou. A Vida transformou-se. Dou comigo a poder gerir o meu dia ocupando-me do que me apetece na hora. Bem, nem sempre só do que me apetece, mas também do que não posso deixar de fazer, como pôr roupa a lavar, lavar a roupa, estender, passar a ferro... mas mesmo isso, posso escolher quando faço e quanto faço. Sem pressão. Estou confinada? Pois estou, mas decidi que esse confinamento é bom, decidi aproveitá-lo para aquilo que sempre me faltou. Nunca tinha tempo para pensar, para parar, a minha cabeça girava qual carrocel, o meu coração vivia em turbilhão, ia para a cama cansada, dormia um sono leve, acordava e a história repetia-se. Estava exausta dos dias seguidos, não satisfatórios. Farta de ter de assinar livros de ponto. E os fins de semana deixavam-me ainda mais melancólica, com a certeza de mais uma semana igualzinha. Passado um ano, acostumei-me a ser livre dentro deste estranho modo de viver que a Pandemia trouxe. Dizem-me que posso ir à rua fazer compras, ao supermercado, ao talho, etc. Eu resolvi fazer as compras online, para que mas tragam a casa. Impõem-me horas de saída e entrada e eu cumpro escrupulosamente. Simplesmente, não saio. O meu mundo é a minha casa, a minha varanda, as minhas flores, os meus pensamentos, as minhas bricolages, o telemóvel e o computador que me ligam aos meus. Os amigos e a família estão sempre próximos, à distância de um toque ou de um clik. Tenho aulas de canto online, semanalmente. Comecei a meditar todos os dias. Descubro-me nesta clausura e cada vez tento ser mais verdadaeira comigo mesma e com os outros. Não posso mudar ninguém, apenas aperfeiçoar-me. Os meus dias jamais são iguais. Hoje, por exemplo, já dediquei tempo às minha orações, já agradeci ao Universo e a quem o rege por mais um dia, já estive meia hora a dedilhar uns acordes na guitarra - sim, estou a aprender! - e agora estou a "falar" convosco. Já tinha saudades. Queria dar-vos algum ânimo, pois este ano tem sido um treino terrível à nossa resistência, à nossa capacidade de viver de modo diverso, de nos desabituarmos de vícios, de ganharmos força para ultrapassar todos os escolhos. Estamos cá. Vivos. E podemos sair disto muito melhores pessoas. O mundo pode ser um melhor lugar, se aproveitarmos e se quisermos que o seja.
Um abraço enorme para todos vós e... deixem umas palavrinhas nos comentários, sim?
Gratidão imensa por ter cada um de vós como meus leitores.