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beijodelua

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FELIZMENTE, SOU PROFESSORA!

14.05.19, beijo_de_lua

Ando exausta, cansada do desrespeito dos políticos, dos partidos, dos governos e das oposições, de todos  igualmente.

Estou cansada de "procuradoras" que abrem a boca e só dizem asneiras e continuam a ter tempo de antena como se fossem sumidades nos assuntos sobre os quais opinam, quando não fazem a mais pálida ideia sobre as questões mais profundas.

Abomino os Berardos desta vida que têm esperteza suficiente para, com a conivência das leis absurdas que o(s) poder(es) vomita(m) cá para fora, visando claramente aniquilar os pobres e os remediados, em favor dos "donos disto tudo".

Fico possessa quando, de janela aberta na Sala de Estudo do meu Agrupamento, me apercebo da linguagem usada pelos alunos, sem distinção de género ou proveniência social, que faria corar a vernaculidade de Gil Vicente.

Aproximam-se eleições europeias e eu decidi abster-me de ir votar, pois cada vez mais acredito que não é nas urnas que se muda o destino dos países, das pessoas, mas sim nas Escolas!

Os políticos servem-se de todos nós para enriquecerem, para manipularem dados, para nos pôr doentes no corpo e na alma, para depois nos enfrascarem em remédios (leia-se medidas) que nos porão ainda mais nas suas mãos: mais pobres, mais tristes, mais conformados, mais "gado a caminho do abate".

FELIZMENTE, SOU PROFESSORA!

Felizmente tenho o poder de chegar a uma sala de aula e DECIDIR que o que quero não é despejar a matéria toda! O que quero é inquietar os meus alunos, motivá-los a pensar, fazê-los sair das suas zonas de conforto, das suas tocas!

Quero que leiam e que escrevam, que tenham um pensamento estruturado, que pensem que não são mais nem menos que o colega do lado, são apenas seres diferentes.

Quero demonstrar-lhes que quanto mais aprenderem, quanto mais crescerem em termos mentais, mais possibilidades terão de fazer a diferença. "AH, o programa de Português é extenso, há exames depois, e tal... " E eu quero lá saber! Terei eu de chegar ao destino trilhando os caminhos dos outros? 

EU NÃO TENHO MEDO! SOU PROFESSORA!

E como tal, é meu dever encontrar o melhor caminho para fazer com que os meus alunos QUEIRAM aprender comigo. Sou incapaz de impingir o que quer que seja a alguém que o não queira, que não esteja motivado.

FELIZMENTE SOU PROFESSORA!

Tenho poder durante 90 minutos. Cada aula é como se fosse uma final do Mundial de futebol!

Mas nós, Professores, (sim, a maiúscula é intencional!) não temos "balneário", não podemos "fazer a cabeça" do nosso plantel  antes do jogo.

Nós, Professores, não ganhamos milhões, não temos direito a massagens quando estamos exaustos, não temos direito a treinador adjunto.

Nós, Professores, não moramos em casas que nos são dadas, em bairros chiques, com segurança e outras amenidades.

Nós, Professores, nem tempo temos para ir ao ginásio em épocas de testes!

Nós, Professores, só temos aqueles minutos breves de uma aula para conseguir que os nossos alunos tenham poder de discernimento, vontade de mudar, energia para se transformarem na melhor versão de si mesmos.

E sim, pelo caminho também se vai ensinando gramática e afins. Porém, não é o mais importante, por mais que as estatísticas batam o pé e digam que sim.

Eu, Professora, ao fim de 40 anos de trabalho, acredito ainda que uma aula pode ser um desafio e não uma seca para os alunos! E é nessa base que eu funciono. Na base da honestidade. Do esforço. Do princípio que devo dar e exigir o melhor de cada um, a cada momento. Na premissa do rigor. Do respeito. 

E isso, governo algum me pode tirar!

Roubem-nos descaradamente tempo de serviço, progressões na carreira, inventem desculpas miseráveis para nos angustiar os dias, mas jamais nos poderão roubar o poder que cada um de nós tem na formação das gerações vindouras! 

FELIZMENTE, HÁ PROFESSORES!

 

CANSAÇO DE DIAS MARCADOS

03.05.19, beijo_de_lua

Agrada-me, como creio que a todas as mães, as manifestações de amor espontâneas, regulares, inusitadas e intempestivas dos filhos. Dá-me cor à alma tudo o que vem de dentro, do fundo da alma, do meio do coração, das entranhas, tudo o que é genuíno.

Eu quero lá saber que haja um dia marcado no calendário do negócio dos afetos que "obrigue" os filhos a demonstrarem às mães o quanto lhes querem através de alguma oferta - quantas vezes não pensada para aquela mãe específica - e que os culpabiliza se o não fizerem, pela pressão social exercida sobre eles, numa sociedade que se rege pela medida "dou-te uma qualquer bugiganga como símbolo do meu amor filial, neste dia, especificamente".

Não me entendam erradamente: eu gosto de receber prendinhas, desenhos mal feitos e coloridos, mas gosto de os receber todos os dias, sem prazo nem data marcados. Sem agenda.

Eu amo dar coisinhas de nada só porque me apetece: uma conchinha, um vaso reciclado com uma plantinha que eu salvei de um lugar qualquer, um saquinho de pano para pôr os chinelos, um bolo que eu acabei de inventar... e gosto muito de dar abraços. E de os receber. E de me comover até às lágrimas quando olho para os meus filhos, hoje já todos homens e mulheres feitos e de me aperceber que, apesar de já não me necessitarem como quando eram pequenos, escolhem todos os dias agir como se eu fosse imprescindível nas suas vidas. E isso, sim, é importante. Muito! 

E depois, há tantas espécies de mães: as biológicas, as do coração, as que nunca o foram mas que agem como tal, as mães culturais, as que nos ensinaram coisas de que gostamos, as que nos amedrontaram os medos que nos tolhiam, as que nos respeitaram pelo que somos e não pelo que os outros quereriam que nós fôssemos...

As mães são incontornáveis todos os dias! Assim como os filhos. O caminho é mesmo o de 365 dias por ano sermos o melhor de nós para com todos os que amamos.