FOGOS & Famosos
Creio que esta falta de opções inteligentes para a resolução dos problemas que assolam este país - de momento, os fogos, as mortes, a escassez de meios, o desespero, a seca extrema, para só falar nuns quanto que me vêm à memória de repente - tem a ver, basicamente, com algumas características que nos estão entranhadas na pele, no ADN, e de que nem nos apercebemos, de tão acostumados estarmos a elas. Ora, se não nos apercebermos, não nos conhecermos, como iremos melhorar???
Somos um povo unido apenas de quando em vez, e sempre por motivos trágicos. Somos bons a chorar "sobre leite derramado", que é como quem diz, sobre sangue derramado! Não nos unimos para celebrar, não nos unimos para rejubilar, não nos unimos para sermos felizes, para cantar e dançar nas ruas. Unimo-nos nos Jogos da Seleção, e mesmo assim, se nos desiludem, somos os primeiros a deitar tudo e todos no fogo. Somos excelentes a dizer que os nossos não prestam, a lamentarmos o que poderia ter sido e não aconteceu. Somos saudosistas sem freio, gostamos do que já não temos e desvalorizamos o que o Presente nos oferece. Somos infelizes por escolha própria e perseverança diária.
Somos igualmente hábeis no esquecimento das tragédias, até que uma, mais nova, mais viçosa, apareça para nos despertar, uma vez mais, da letargia em que nos prostrou a anterior catástrofe e o retomar das nossas vidinhas mais ou menos cinzentas ou glamorosas.
Consideramos nosso dever enviar mensagens de ânimo a quem tudo perdeu e a quem fica sem opções de vida é altruísta, bem como criticar os governos - sejam eles quais forem! - pedir a demissão dos ministros das respetivas pastas, lamentar que a Proteção Civil seja inócua, que as comunicações não funcionem, que os Bombeiros estejam de mãos e pés atados, esgotados...
Somos exímios a criticar e a pouco resolver. Somos passivos. Ficamos.
Voltamos ao sofá onde os noticiários nos assolam com comentários e comentadores ácidos, que se aproveitam das desgraças para aumentar os "shares" de audiências.Usam agora os incêndios para ir buscar as greves na saúde, ou o descongelamento das carreiras da função pública, ou o que quer que seja, com o intuito de tirarem dividendos políticos, sociais e profissionais de todos os factos...
Tratam-nos como energúmenos e nós deixamos... Manipulam-nos, todos!!! O Governo, a oposição, os que foram e os que estão! E nós deixamos... porque não sabemos mudar a raiva em energia positiva, o desalento em ação, a passividade em genica... Falta-nos sempre "aquele bocadinho assim" que nos faria sermos o melhor de nós, enquanto povo!
Mas haja Esperança!!! E Fé! Já começou a chover...
E, um dia destes, pode ser que alguém se lembre de sussurrar "Senhores ministros, senhores deputados, teremos de tomar rapidamente providências!!! A Madona quer ir-se embora!!!"
Aí, seguramente, seria declarada catástrofe nacional, os programas e revistas cor-de-rosa estariam providos de "notícias" por mais uns tempos, e nós teríamos algo para nos lamentarmos, de novo... ou será que aí iriam ser tomadas REALMENTE providências??? É que estaria em causa o turismo... que será do turismo se já não existir país???
Acordai, POVO!!!!