REFLEXÕES, REFORMAS, VELHOS E JOVENS
A propósito do que se diz e se inventa sobre as reformas, e a sustentabilidade das mesmas, resolvi escrever hoje a essse respeito e...ADORAVA que este meu post fosse lido por os nossos governantes e, principalmente, pelo nosso presidente.
Sim, porque todos eles sabem muito de política, de sustentabilidade(s), e de tantas outras coisas em que eu estou longe de ser especialista, mas, possivelmente, analisam as questões cerebralmente, economicamente, financeiramente, e esquecem-se de as analisar humanamente. Esquecem-se ou não querem, ou não podem, ou não estão interessados, ou... sei lá eu mais o quê!!! Mas eu, que sou uma simples cidadã, que os elege, que paga impostos, que arca com as suas decisões, que, tal como qualquer funcionário público, é a primeira a sentir na pele as crises e os cortes orçamentais, e uma vez que o 25 de abril já se deu há uns aninhos, julgo-me no direito de falar o que penso.
Eu não percebo nada de política, mas questiono-me com base na lógica comum e aqui ficam as minhas reflexões.
Temos um país em que os jovens emigram, ou ficam desempregados até muito tarde. Os que emigram, ou têm altos estudos e não estão para se submeter a ficar em casa dos pais, sem iniciarem a sua vida adulta e responsável, ou têm poucos estudos e, entre ficarem cá, sem perspectivas de futuro, ou irem tentar a sua sorte noutras paragens, muitas vezes optam pela segunda hipótese.
Dos que se acomodam e ficam, pensando que ainda haverá esperança, a realidade dura mostra-lhes que, ao fim de 5,10, 15 anos, continuam a recibos verdes fictícios, sem qualquer vínculo perspectivas de estabilidade.
Os que ficam, entristecem e desmotivam. Murcham.
Os pais e os avós tentam suprir as suas necessidades e vão-se arrastando em trabalhos para os quais já não têm, muitas vezes, ânimo nem força física.
Os jovens, que deveriam ser a força motriz do nosso país, seguem as pegadas dos nossos antepassados, que se viram forçados a viver em Bidonvilles para poderem sustentar-se e criar as suas famílias.
Desta vez, exportamos jovens que vão trabalhar e fazer os seus descontos lá fora, mas atenção: esses que hoje partem, já não pensam como os anteriores, não se matam a trabalhar no estrangeiro para mandar o seu dinheiro para Portugal, para vir montar cá um negociozito ou fazer uma casinha na aldeia! Estes vão, fazem as suas vidas lá, e é lá que deixam o que ganham! Aqui, gastam se vêm de férias, quando vêm!
Desespera-se em Portugal!
Aos novos, com sangue na guelra, não se dá a hipótese de trabalhar.
Aos mais velhos, já esgotados da luta, impõe-se-lhes que trabalhem para lá dos 66 anos.
Nega-se aos jovens o sonho de iniciar as suas vidas e as suas carreiras como seres capazes e independentes. Investe-se no ensino de jovens que, depois, irão ser produtivos e contribuir para a riquezade outros países.
Põe-se a canga no pescoço dos mais velhos sob a ameaça velada, jamais pronunciada, que paira sobre as suas cabeças: se me reformo antes do tempo, não terei o suficiente para pôr pão na mesa, quanto mais para ajudar os meus filhos e os meus netos!
Arrastamo-nos, em Portugal.
Os mais velhos, para o trabalho, os mais novos para as filas do Centro de (Des) Emprego.
Não há vontade para inverter esta situação.
Não há vontade para pensar que as pessoas, o povo, essa sim, é a nossa grande riqueza!
Ah, e o sol! Que graças a Deus não é controlado pelos governos, ou já teriam inventado uma forma de ele só nascer para alguns, em termos reais. Porque, no sentido figurado, cada vez mais o sol nasce só para uns quantos!
Eu não percebo de política, mas percebo de gente! E de justiça... ou da sua falta.
Olhemos para o meu caso, que é um entre milhares. Sou professora desde os 22 anos e tenho 61. Tempo de serviço - 37 anos (alguém se lembra dos mini-concursos, em que só nos colocavam depois do Natal para não nos pagarem o subsídio de natal proporcional?).
Dizem que ainda tenho que dar aulas mais 5 anos.
E eu digo que estou cansada.
Que o meu lugar deveria ser dado a um professor mais novo.
Que poderia começar a pensar em organizar a sua vida.
Para que eu pudesse levantar-me um pouco mais tarde. Acender a lareira e ficar a fazer tricot. Ou a experimentar receitas novas. Ou a passear com as minhas netas. Ou a ler sossegadamente os livros que o tempo dedicado à profissão me impediu de ler. Ou a escrever. Ou a aprender a pintar ou qualquer outra coisa.
37 anos de uma profissão desgastante e importantíssima como é a de ser professor deveria merecer respeito. E não merece. As salas de professores, hoje, parecem lares de terceira idade, não há renovação. Há cansaço.
Tudo seria diferente se houvesse esse rejuvenescimento e, obviamente, os professores mais velhos que quisessem continuar a trabalhar seriam bem-vindos. Mas deveriam ter a opção de ficar ou não. Merecem isso!
Creio que um professor deveria merecer, no mínimo, o mesmo respeito que um deputado, ao qual, como sabemos, bastam meia dúzia de anos para ter direito a uma reforma choruda. E depois, se continuar a trabalhar, terá direito a mais reformas, adicionais. Isto será justo? Dirão "um deputado está ao serviço do país, do Estado." E eu pergunto: e um professor não???!!! Há algum deputado, presidente, médico, engenheiro que tenha chegado ao cargo que ocupa sem os professores que o foram formando?
Nisto tudo penso eu, que nada percebo de política, mas que voto nos políticos.
E penso, e questiono, e esbracejo porque, apesar de tudo, ainda sou uma mulher de fé e de esperança.
Quem sabe, pode ser que algum político me leia e se questione: "será que poderíamos fazer algo diferente pelo nosso país, pela nossa gente?"
E eu, que não percebo nada de política, nem de sustentabilidade(s), responder-lhe-ia, sorridente "olhe que sim, Dr., olhe que sim!"
https://www.youtube.com/watch?v=TWaP-ApkJgs