"O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime, ou não existe.
Quando existe, existe para todo o sempre e aumenta cada vez mais."
(Balzac)
Este ano resolvi não enviar as palavras gastas de votos de Boas Festas aos meus amigos. Não que lhes não deseje o melhor que a vida lhes possa dar, mas apenas porque me apetece dar-lhes um pouco mais de mim através de palavras mais pensadas e menos repetidas.
Este foi um ano terrível, e os que se aproximam não auguram grandes melhorias, por isso mesmo é necessário focalizarmos nas pequenas coisas BOAS que vão acontecendo, nos PORMENORES que enriquecem os nossos dias e que, por vezes, nos esquecemos de valorizar, subjugados pelas notícias que nos oferecem de bandeja mortes, massacres, desvios de comportamento, catástrofes naturais ou provocadas. A televisão e os telejornais são os novos mensageiros da(s) desgraça(s), entram-nos pela casa dentro à hora (des)apropriada das refeições familiares e nós, em vez de olharmos para o/ companheiro/a de jornada que escolhemos e para os filhos ou netos que temos, (pre)ocupamo-nos das notícias longínquas ou mais próximas em detrimento dos que estão ali, mesmo à mão de semear. E esta ideia leva-me de volta à casa, à mesa, aos nossos, aos vizinhos da rua, do prédio onde moramos, da terra onde nascemos ou que nos acolheu. O mundo que conhecíamos mudou, colapsou em termos económicos e financeiros e, se não nos apercebermos, verá o seu final em termos muito mais graves: o fim do mundo dos valores, da vizinhança e da cidadania. Irrita-me a solidariedadezinha de época, o " ligue já para se habilitar a ganhar um carro de alta cilindrada e já agora, ajude quem mais precisa", como se os menos afortunados só tivessem fome nas épocas festivas. Também não quero explorar mais esta ideia pois ir-me-ia levar a considerações menos positivas e eu pretendo pensar nas coisas BOAS e não perder o meu tempo com as outras, pois a essas já se dá tempo de antena de sobra. Então, afinal, o que é que eu proponho, neste final de ano? Muito simplesmente ... regressar às origens. Olhar para o lado e ver o que nos cerca, o que faz parte da nossa vida, quem se cruza connosco amiúde e que ignoramos sistematicamente. Passamos os dias a lamentar o pouco tempo que temos para as coisas que realmente interessam, mas dedicar-lhes-emos o tempo suficiente? Há que priorizar, todos sabemos, fazemos isso no nosso trabalho, na gestão da nossa casa, mas será que o fazemos na gestão dos afetos? Estas e outras milhentas questões são as que me ponho todos os dias e para as quais vou sempre encontrando, no fundinho da minha alma, a mesmíssima resposta: tem calma, não leves tudo tão a peito,não te leves tão a sério! Vozinha irritante, não é? Mas é ela que não me deixa ficar mais vezes de mau humor... Por exemplo, já reparei que, se não rir, as rugas dos meus olhos se veem menos, mas valerá a pena não sorrir apenas para ficar com menos pés de galinha? Eu sei que este é um exemplo caricato, e que até vos posso levar a olhar para vós mesmos sorrindo e de cara séria... mas já agora reparem também qual é a cara que vos agrada mais, a fechada ou a sorridente?
Então... vamos lá a sorrir mesmo que as rugas se avolumem, passemos a olhar quem connosco se cruza ou a quem nos atende numa loja.
Olhemos para os nossos pais, já velhotes e rezinguentos por vezes, como se olhassemos para nós mesmos, daqui a uns anos e bendigamos o privilégio de os podermos ainda olhar nos olhos.
Recordemo-nos da nossa infância, dos amigos que nunca mais vimos e daqueles que o tempo foi de nós distanciando e usemos o Facebook ou o Tweeter para os reencontrarmos e sabermos o que é feito deles.
Olhemos o nosso trabalho e os nossos colegas como potenciais fontes de alegria e crescimento e não de aborrecimento e enfado.
Vejamos os nossos filhos e netos crescerem, ou os filhos e netos e sobrinhos dos nossos amigos, e tentemos manter acesa a chama dual da sabedoria dos anos e da alegria da juventude, para que eles nos olhem com um misto de respeito e deslumbramento e queiram estar realmente junto de nós sem se aborrecerem.
Recordemos todos os que já partiram para outra dimensão e passemos o seu testemunho aos mais novos, para que o seu capital familiar se enriqueça de memórias e de afetos desta e de qualquer outra dimensão.
Tenhamos a coragem e a grandeza de ouvir os mais velhos repetir a cada reunião familiar as mesmas histórias sem mostrarmos tédio, porque uma história contada nunca é a mesma, mesmo que as palavras nos pareçam repeti-la.
Não desistamos da nossa casa, dos nossos amigos, dos nossos vizinhos, da nossa terra, dos nossos sonhos. Vivemos hoje num mundo global, mas é na pequena roda que constitui o nosso círculo de vida, família e amigos incluídos, que tudo nasce e se consolida.
Mesmo sabendo que este não é o mais cintilante natal, e que o novo ano continuará a não nos alegrar, reconvertamos as nossas prioridades e, olhando para os que nos estão mais próximos, sejamos capazes de fazer a diferença.
Porque o Natal celebrará sempre um (re) nascimento, independentemente de qualquer factor, estes são os meus votos de natal e de novo ano para todos vós, meus amigos.
Sejamos alegres, solidários, gratos, interventivos, positivos e estaremos a transformar a Terra num melhor sítio para se viver.
BOM NATAL :)!