Segunda-feira dizem que é Dia dos Namorados... e isso põe-me a pensar: será preciso haver um dia no calendário para se namorar? Será preciso dia marcado para amarmos alguém, para nos aproximarmos e dizermos "Gosto de ti, mesmo nos dias maus!!!"? Será preciso mesmo comprar, ir ao restaurante mais in do momento, inventar uma ida ao cinema, deixar para trás as preocupações do dia-a-dia, as questões por resolver, apenas por uns momentos, apenas por um dia? Hoje é sábado, dia em que por necessidade, porque a semana para nós todos cá em casa - e certamente para outras milhentas famílias - é pesada, em termos de esforço, de trabalho, aproveitamos para relaxar um pouco. Hoje NÃO É dia dos namorados, mas há pouco, quando me encostei no sofá e comecei "a passar pelas brasas", senti uma festa breve, um leve roçar de dedos na minha mão esquecida sobre a manta de viagem que me acompanha nestas andanças do descanso pelas terras da Sofalandia. Abri os olhos sonolentos e reparei nuns olhos encantados a velar pelo meu início de sono. Sorri e devolvi o afago com um ligeiro apertar da sua mão. E deixei-me adormecer, tranquilamente, numa sensação de conforto indescritível. Quando acordei, estava sozinha no sofá. Fui à procura do resto do pessoal, pé ante pé, que a casa estava morninha e silenciosa. O filhote, cansado pelo jogo de futebol da manhã, adormecera em cima da cama, enroladinho no édredon. O pai esticara-se na nossa cama, de televisão acesa, e lá estava, dormindo como um justo. Pus-lhe o roupão por cima, aconchegando-o, e saí de mansinho. Possivelmente, acordá-los-á o cheirinho da carne que já assa no forno. Quanto a mim, dia dos namorados é aquele em que se faz alguma coisa para que o outro se sinta bem, para que nós nos sintamos bem um com o outro. Para mim, o dia dos namorados não me obriga a qualquer esforço suplementar de atenção ou de gasto económico. Dia dos namorados deve ser cada um dos nossos dias, se temos a sorte de compartilhar a vida com quem nos ama. Porque cada dia é único, não se torna a viver, e não há maneira de desfazer o que foi (mal) feito.