Cheirinho a café-memória
A casa rescendia a café acabado de nascer, naquela como em todas as outras manhãs. E ele, que nem café bebia, aspirava-o no ar, respirando o aroma festivo de vida que a caracterizava. Não sabia bem quando começara a enamorar-se dela, nem mesmo agora que o tempo se encarregara de lha levar para longe, numa distância impossível de galgar, numa proximidade de alma inesquecível. Agora tinha outra mulher, filhos, netos até. Mas não havia uma única manhã em que não ansiasse por a ver sorrir-lhe esse bom-dia gaiato que se embuía do odor daquele café que ele nunca degustara mas que lhe permanecia memória viva a cada nova alvorada. E a mesma pergunta teimosa, naquela vozinha incómoda de sempre, insistia: E se tivesses ficado com ela?