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beijodelua

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VIDA

12.09.08, beijo_de_lua

            Na mesura justa do desaparecer dos dias, crescem valências outras, jamais sonhadas. A vida é feita de luz e sombra, de chuva e de arco-íris, de papagaios-de-papel lançados ou por lançar. Na falta do vento, o que importa é fazer a festa que, não podendo ser, acontece na mesma. O gesto contido, o sorriso espraiado, a canção cantarolada mentalmente, acompanhada pela Sinfónica de Berlim, os livros lidos e os por ler, repousadamente a gozar reforma antecipada, os projectos que nunca se projectaram e, contudo, surgiram na esquina dos dedos entrelaçados. Os filhos tidos e os sentidos, envoltos em vidas agri-doces, em suspiros longínquos, saudosos do que poderia ter sido e se escapou. O espanto nos abraços espontâneos, surgidos do nada, ressuscitando quereres insuspeitos. O pranto que inunda a voz e embarga o afago num não saber mais que agradecer tanto bem querer. A Felicidade que acontece quando menos se espera e, por isso, comove e inebria. O espanto da permanênca, da solidez, da certeza tenaz que a Vida se vai esbatendo, tornando-nos paradoxalmente repletos e destemidos. A descoberta que o Mundo gira a cada respirar e que até um último suspiro consegue ser doce e sorridente. Nada acaba, tudo evolui. Perseverança, sonho, acreditar, nunca desistir de ser criança, mesmo quando os ossos já doem, as pernas se recusam a andar lestas e a memória já não é o que costumava. Heróis frágeis fazem toda a diferença num sistema instituído de negatividade, de intolerância, de desprazer. Escolha. Livre arbítrio. Tranquilidade. Aceitação activa. O toque de Midas nas mais pequenas coisas, nas insignificâncias, nos pormenores, na alma dos que amamos e na dos que nada nos dizem. Amores renascidos de desamores tortuosos, de ausências prolongadas na espuma das noites de infindáveis choros por soltar, de inúmeros gritos de silêncio ensanguentado, morrendo no peito, presos na garganta. Gotas de esperança num porvir desconhecido, no deslumbramento de nos sentirmos reflçectidos, espelhados para lá do olhar do outro.

Viver é ser especial para alguém.

E quando tal acontece, não há mar, não há mal, não há terra, não há guerra, não há morte que possa apagar essa vida.