Alguma vez me amaste?
Veio-lhe à ideia perguntar-lhe “alguma vez me amaste?”. O primeiro impulso levou-a a pôr a mão sobre o teclado e a escrever a questão. Hesitou no momento de enviar. Do outro lado, ele esperava que a conversa continuasse. Ah, esta coisa fantástica de falar em tempo real sem ouvir a voz do outro, este espanto de escrever e lerem-na no momento seguinte eram viciantes demais, perigosos demais. Ela, porém, conhecia vícios e virtudes destas máquinas do tempo. E morreu-lhe nos dedos a pergunta que lhe inquietava o ser “ alguma vez me amaste?”. Sabia que, se escrevesse, a resposta não viria, ou apareceria dúbia, furtiva, inteligentemente correcta, falseada de uma forma ou de outra. Sabia que ele nunca diria que a não amara embora nunca tivesse sabido verbalizar um “je t’aime” mais comum, talvez, ao seu sentir. Os smiles mais ou menos simpáticos apareciam na janelinha do MSN, insistentes. Ela olhava-os e sabia-se muda, seca de sons e de smiles. Ficaria sempre com aquele “alguma vez me amaste?” sem resposta alguma. Ficaria sempre com aquela dor da dúvida, qual lacre a ferro e fogo gravado nos lábios, espelhado nos olhos… “alguma vez me amaste?”.
21 de Abril 2008