ALGUÉM SABE ONDE PÁRA O RESPEITO PELO PRÓXIMO?
«Nunca vou a um SAP (serviço de atendimento permanente), nem nunca irei» declara, em grandes parangonas, o Ministro da Saúde, há algum tempo atrás, do alto da sua arrogância.
Não contente com a sua afirmação, que acima transcrevi, tempos depois, o mesmíssimo Ministro, respondendo a uma questão formulada por um jornalista sobre o dinheiro (mal)gasto em medicamentos, fora de data, que terão de ser deitados fora, e que rondam os 1700,00€, responde, de largo sorriso de orelha a orelha, que "esses medicamentos podem sempre ser dados aos pobres..." A isto chama o Senhor Ministro "uma resposta jocosa" a uma pergunta matreira ou maliciosa, mas já não reconhece o mesmo direito de ser jocoso a qualquer outro ser humano. Apenas ele (será que deverei escrever Ele??? é assim que se tratam os deuses....) pode ser tudo isso, quando lhe dá na real gana.
Pobre ministro....só tem ideias de quem é muito, mas mesmo muito pequenino, enquanto ser humano! Voltemos aos pobres, Senhor Ministro, que quero dar-lhe um conselho: o senhor pode gozar com os que lhe são superiores (o que não faz, por medo!), poderá ser jocoso com os seus iguais, os seus pares ( que, seguramente, não lhe tolerarão a falta de educação evidente), mas JAMAIS deverá ter a ousadia, a sem- vergonhice, de falar dos que lhe são inferiores, em termos de riqueza, de forma canalha! Pisar nos que estão em baixo é atitude de quem não tem qualquer princípio, senhor Ministro.
Deixe que lhe conte uma história verdadeira, que se passou há mais de 45 anos, portanto em plena época de fascismo, de Pide, de perseguição. Nesse tempo, o pão era distribuído pelas vilas e aldeias, em carroças puxadas por burricos, ou em cestitos, em cima de bicicletas, e o povo vinha até ali, para levar o seu pãozinho para o dia, aproveitando para dar dois dedos de conversa. Como, à época, "mais de duas pessoas" era considerado um ajuntamento, havia sempre um GNR por perto, para que não se conspirasse à volta dos cestos do pão. De todos os GNR, havia um que gostava de ser "mais papista do que o papa", de quem ninguém gostava, e a quem quase todos temiam. Ele adorava ser alvo do ódio das pessoas, enchia-o de orgulho essa proeza.
Ora, certo dia, uns pães caem ao chão, ficando dois muito próxims dos excrementos do burrico. De imediato, o Cabo Rosa - assim se chamava o agente da GNR - dá a seguinte ordem:
- Esse pão não está capaz de ser vendido a ninguém. Levem tudo para o hospital, para ser dado aos pobres!
A minha mãe, baixa-se com toda a ligeireza e pega nos pães mais próximos dos excrementos e diz ao padeiro:
- Estes levo eu!
O Cabo Rosa encara-a, vermelho de raiva, e questiona:
- Não ouviu dizer que esse pão é para os pobres, que não pode ser vendido?
- Ouvi, sim senhor. Mas são estes pães mesmo que eu vou levar. A minha boca e a dos meus é igual à dos pobres, por isso, se serve para eles, também serve para mim!
Espumando de raiva, o GNR diz-lhe que o está a desrespeitar e ordena-lhe que deponha o pão. Ou senão.... e olha-a ameaçadoramente! A minha mãe enfrenta-o e diz:
- Ou senão o quê? Leva-me presa? E respeito-o porquê? Acha que são uns botões dourados numa farda que lhe garantem respeito? O respeito ganha-se, e você não o merece!
São os exemplos que nos dão o nosso maior legado. E mesmo nessa altura, ninguém prendeu a minha mãe... Se calhar, afinal, o Estado Novo era bem menos policial do que este desgoverno que se diz socialista...
"Já agora...vale a pena pensar nisso...!"