O telefone tocara e ela nem ouvira, atordoada com movimentações várias, entre as quais o trabalho que quando não tinha inventava, para se sentir ocupada de espírito e cansada de corpo, quando à noite fosse dormir. ELE ligara-lhe...fitou atónita o número no visor. Resolveu chamar. Respondeu-lhe do outro lado, voz de cansaço em convite. A água que corria para a banheira fechou-se, o banho repousante e repousado transformado em duche fugidio. Em fracções de segundo percebeu a luzinha ao fundo do túnel, a esperança. Ela era daquelas que não acreditava na expressão "lutar por amor". Lutar por um amor? Como é que isso se faria? Para ela, o amor era transparente, límpido, acontecia; a simples ideia de luta associada a amor parecia-lhe um indescritível disparate. Aceitara o convite para saírem juntos e sabia que não queria lutar - não saberia sequer como! - por aquele amor unilateral: seu por ele. Enquanto passava os dedos pelos caracóis ainda molhados, perguntava-se como iria agir. Não seria melhor arranjar uma desculpa qualquer ? Seria sensato continuar a acalentar um sentimento que sabia não ser recíproco? Racionalmente sabia que não mas...e o que sabia de todos os outros modos que nada têm a ver com a razão? Isso não contava? No telefone já nem tinha o toque que o identificava como individual, especial, único na sua vida, mas quando soou de novo, sabia que era ele que já chegara e a esperava 7 andares abaixo e três ou quatro passos de distância. Desceu. Entrou no carro. Beijou-o levemente. Soube então que iria fazer uma coisa bem simples: aproveitar cada dia, cada segundo com ele. O futuro, afinal, era tecido de momentos de presente, apenas. E percebeu que de cada vez que ele a chamasse, que tivesse desejo de a ter nos braços, de fazer amor com ela, de provar o sabor dessa cumplicidade ímpar, ela a agarraria com todos os seus sentidos. Dia a dia, abraço a abraço, riso a riso, sentia-se Sherazade...quiçá ele começasse a amá--la aos poucos, persistentemente. Passou-lhe a mão pelos cabelos enquanto ele a acariciava ao de leve. O carro rolava, devagar, pela marginal, e ela sentia uma imensa paz recheada de alegria. Sherazade...este é o teu primeiro dia ...
Alguém sabe afinal o que é a Felicidade? A cada pessoa corresponde uma definição, por certo diferente da do seu melhor amigo, do vizinho, do irmão...Mas todos sabemos como nos sentimos quando estamos felizes. A alegria estampa-se-nos no rosto, ilumina-nos os olhos, aquece-nos a alma, põe-nos mais vivos que nunca. A felicidade são momentos breves, de plenitude. Que acontecem, apenas porque sim. Ninguém compra o direito de ser feliz, não se pode impor a alguém que seja feliz... E eu? O que me faz feliz? Eu devo ser um ser estranho, capaz de encontrar a felicidade mesmo nas coisas amargas, nos acontecimentos menos alegres, nos momentos das mais difíceis decisões. Haverá dor maior do que perder alguém que se ama incondicionalmente? Não creio...e no entanto, no meio desse deserto, consigo descortinar uma réstea de felicidade, por saber que fui pelo caminho mais difícil, pela verdada das coisas, pela honestidade dos sentires. A felicidade de saber que sou incapaz de manipular os outros. A alegria de sentir que cada novo dia é uma porta aberta ao recomeço. Hoje, num exercício a propósito de recursos expressivos, uma das minhas alunas escreveu esta frase " Sou feliz todos os dias, mesmo nos dias tristes!" Nada acontece por acaso...e essa era a mensagem que vos queria deixar hoje, independentemente de quão triste tenha sido o vosso ou o meu dia: Sejam felizes todos os dias, mesmo nos dias tristes!
Com que direito me olhas assim, desse modo doce e desamparado? Com que direito me entras na alma e me afagas sem dedos, todo tu ternura? Com que direito te embrenhas em mim, manso e calmo, fazendo do meu peito a tua casa, do meu sorriso a tua cama, da minha vida o teu lugar sagrado? Quem te deu o direito de seres alvorecer crepúscular, mar e terra, lua ensolarada? Fitas-me de novo, palavras mudas na garganta, olhos repletos de estrelas-surpresa. Devolvo-te o olhar e descubro, atónita, que tens todos os direitos de fazer de mim teu princípio e fim, nesta e noutras vidas, em qualquer dimensão. Vá lá saber-se porquê Deus nos criou assim, unos, indivisíveis, almas-gémeas-companheiras... Sorrio e percebo que apenas eu, tão só eu mesma, detenho a chave desse saber. Os teus olhos verde-mar procuram ainda a razão deste sentir e dizes-me " nem eu sei porque me sinto bem contigo, mas o certo é que acontece...não consigo explicar por que razão me fazes falta". Deixo-te com as tuas indecisões, as tuas crises existênciais. Que poderei dizer para te fazer compreender o que ainda não atinges por falta de trilho percorrido? Nada! Há alturas em que as palavras só atrapalham pois não as sabemos escolher na medida certa do que poderiam transmitir. Faça-se silêncio pois. Na Natureza, tudo leva o seu tempo a germinar, a vingar, a nascer, a crescer, a madurar... Acaricio-te ao de leve, sorrindo. Talvez este raio de sol seja apenas mais um no caminho da percepção do amor...
Dissera-lhe ele, como resposta às suas inquietações. E acrescentara, usando palavras que ela própria escrevera um dia, que não sabia o motivo por que se interrogava tanto...Afinal, rematara " não era isto que querias, todo este tempo?" O silêncio gelara-se-lhe nos lábios...um arrepio percorrera-lhe a alma. Dava consigo no meio da confusão, num embróglio de sentimentos desconhecidos: medo, tristeza, irrequietude, desespero, alegria também... Claro que era isso que sempre quisera, sem dúvida! Porém, agora que acontecera, sentia-se baralhada. Percebera que o tempo não se suspendera na espera do retorno. Que o regresso tão desejado servia apenas para medir no presente a dádiva que seria ter, de novo, esse amor. Daí, que não era realmente uma volta ao passado, a esse lugar onde fora imensamente feliz, a esse outro alguém a quem se dera completamente, a cada fracção de segundo. Crescera. Sofrera. Mudara. Continuava a amar, mas de forma mais despojada e distante, se é que se pode dizer que o Amor é distante alguma vez. Sentia como que uma sombra de si mesma nesses espaços distantes em que se via amando e sofrendo, apenas e só porque havia uma enorme desigualdade na forma de se dar e de receber. Respirou fundo. Abriu a janela. Fechou os olhos. Interiorizou. Viu no fundo de si mesma. Finalmente percebera, entendera-se. O tempo de pousio acabara. Estava pronta para um novo amor, viesse ele de onde viesse. Dele, a quem esperara sem qualquer esperança de que ele voltasse, ou de qualquer outro alguém. Agora, caso ele a quisesse, teria de a merecer. Em igualdade de circunstâncias com os demais seres com quem ela tivesse compatibilidade de sentires. Voltou para dentro. Recostou-se no sofá onde tantas vezes fizera amor com ele e sorriu. Puxou de um livro e recomeçou a ler. Serena.
Agora, chegada que sou ao Z, que faço? Nunca mais tive comentários ao meu blog, nem dos leitores que sei atentos e assiduos. E gostava de ter. Que faço agora? Querem que desista de escrever aqui? Que me vá deste para qualquer outro lado? Ou que continue? E se assim é..porquê? Enfim...não sejam preguiçosos e mostrem-se lá, sugiram, comentem! Preciso de saber se vos sou agradável de ler...se vos faço algum bem, pois só assim merece a pena continuar. Fico à espera...impacientemente.
Carícias embrulhadas em amêndoas, salpicadas de teias de luar.
Dois braços abertos, uns olhos brilhantes, regados por "que saudades de ti!"; um beijo terno no pescoço, ambos mergulhados na incredulidade de estarem de novo ali, perto, comungando de algo maior que eles, maior que tudo que tinha nome. A vida reposta em flash-back naquele preciso instante. E à cabeça dela vinham-lhe as palavras dele, numa certa tarde, a propósito de uma música..." Que letra esta! Ouve bem!" E passara-lhe a letra do disco do Abrunhosa "Eu não sei quem te perdeu". Sorriu...afinal, ela também não sabia. Sabia apenas que tinham andado perdidos um do outro e que se tinham reencontrado. Esse era o milagre. O zénite desse amor-amizade a preservar. Para além de tudo. Para além do tempo. Ela acreditava que essa era uma relação talhada no céu...agora, apenas lhes competia dar uma ajudinha aos deuses. Adormeceu nos braços dele, porto de abrigo reencontrado. A ele, parecia-lhe ter encontrado a peça perdida do puzzle da vida.
Tinham-se encontrado num desses sítios da moda, em que ninguém se conhece mas se encontra através de palavras. Uma sala de chat. Uma sala de chat???? Coisas dessas não dão nunca bom resultado, alertava-a a sua parte racional. Qual quê? Refilava-lhe a intuição... E nesta dicotomia, conheceram-se. Foi uma descoberta indescritível, da qual nem irei falar. Apenas do que permaneceu, depois do circuito normal de uma relação de amizade-amor-início-fim-ou talvez não. Passou tempo. Começaram e acabaram novos percursos, reviram-se com outras pessoas, do passado, do presente. Ele encontrara outro alguém, partilhava um presente em que ela era apenas e só passado. Ela, ao virar da esquina de mais uma noite qualquer de sono menos reparador, fora obrigada a assumir que ele permanecia em si como uma espécie de um segundo DNA, o dos sentimentos... Esse amor-amizade instalara-se, ali continuava, de pedra e cal, inalterável, igual a si mesmo. Apesar do tempo, apesar da distância, apesar de todos os pesares. A memória dos afectos, dos risos, dos tempos sem palavras, enchia-lhe a alma de um inefável sentimento de plenitude, mesmo agora, à distância de quase um ano de ausências sentidas cada dia de forma mais contundente. Animava-a uma única certeza: ele era feliz com quem escolhera, pensava ela. E não sentia raiva, nem amargura...apenas tristeza por não ter sido ela a escolhida. Sacudia a cabeça, afugentava uma lágrima mais teimosa e seguia a sua vida. Trabalhava cada dia mais. Felizmente, gostava do que fazia. Sabia que o tempo iria tratar de repor as coisas onde deveriam estar. Era uma mulher de fé, confiava que merecia ser feliz e dava graças por ter tido hipótese de ter vivido um amor assim, doce, perene, gostoso, pleno. Essa era a sua experiência de vida mais terna, exactamente a par da experiência de ter sido mãe. Sorria , sempre que se lembrava desses afectos que tanto a tinham afectado positivamente, marcado de forma indelével. E não podia deixar de pensar que ainda continuava a acreditar em contos de fadas...que coisa!!!! Como poderia ainda albergar a secreta esperança de que talvez, um dia, voltasse a viver um amor assim? Como poderia acreditar que um génio, anjo benfazejo, fada-madrinha, ou todos os seres fantásticos em simultâneo, lhe trouxessem de volta o que pensava ter perdido para sempre? Mas o facto é que acreditava...
Hoje tinha absolutamente que escrever! E sabia bem acerca de quê, de resto. Porém, a forma que inicialmente dera a este Blog, parecia tolher-me os movimentos de escrita e a criatividade. Como é que iria começar um artigo, ESTE artigo, com a letra X, a que propósito???? Desanimada, fiquei-me a olhá-la - à LETRA X - fixando-me no monitor, desafiadora... Nada de inspiração...niente...nickes... Levantei-me, e fui olhar o mundo ensolarado, da minha varanda onde, precisamente ontem, tinha estado alguém que enche a minha vida de todos os sóis do universo e de quantas cores é feito o arco-íris... Sorri, de mim para mim, e pensei " A vida é um eterno entrecruzar de surpresas...um exercício de escolha múltipla, que marcamos com o X no quadradinho errado, tantas vezes, mas que podemos sempre voltar atrás e emendar... !".
Isto pensado, já sabia que poderia escrever a propósito do X. Veremos como me saio...
Por opção, decidi ser feliz! Creio até que foi a primeira escolha da minha vida, mal dei o primeiro choro. Depois, como acontece com o próprio respirar, esqueci-me desse desiderato e entristeci. Um safanão, dois, mil que a Vida se encarregou de me dar, vieram relembrar-me que só temos mesmo este tempo, este minuto, este pulsar. E renasci. No meio da dor, resisti. Sarei, lambi as próprias feridas e espantei-me de mim. Descobri mais força do que a que alguma vez pressentira ter. E curiosamente, adocei. Sorri e redescobri-me nos outros e cá dentro, bem no íntimo. Rememoriei cada milésimo de felicidade, esqueci as coisas menos boas, não sem antes as ter olhado de frente e arrumado no canto próprio do capital emocional, daquele que não tem flutuações e que nos transforma e engrandece se somos capazes de estar atentos, de aprender, de errar e voltar atrás, emendar o passo e o percurso de vida. Esperança. Fé. Confiança. Respeito. Gratidão. Esses são os os elementos mágicos da Felicidade de viver em cada dia, o primeiro e último da nossa existência, um dia de cada vez, o melhor possível.
Saudações de sol e lua, envoltas na brisa amena deste entardecer!